quarta-feira, 13 de abril de 2011

Cântico da Vida

Dois Poemas de J. Krishnamurti


I

Oh! Alegra-te!
Há trovões nas montanhas
E longas sombras matizam a face verde do vale.
As chuvas suscitam brotos verdes
Nos troncos mortos de ontem.
Lá no alto, entre as rochas,
Uma águia está fazendo o ninho.

Todas as coisas são grandes na vida.
Oh! Amigo,
A vida enche o mundo.
Eu e tu estamos em união eterna.

A vida é como as águas
Que nutrem reis e mendigos igualmente.
Vaso de ouro para o rei,
Para o mendigo vaso de barro,
Que se despedaça na fonte;
Cada qual estima igualmente o seu vaso.
Há isolamento,
Pavor na solidão,
Mágoa do morrer do dia,
Tristeza de uma nuvem que passa.

A vida destituída de amor,
Peregrina de casa em casa,
E ninguém há que lhe proclame o encanto.
Como o de um pedaço de rocha granítica
Transformado numa imagem tumular,
Que os homens têm por sagrada,
Mas pisam a rocha no caminho
Que leva ao templo.
Oh! Amigo,
A vida enche o mundo.
Vós e eu estamos em união eterna.

II

Contém a gota de chuva em sua plenitude
A raivosa torrente
Ou as espelhantes águas de um profundo lago de montanha?
Alimenta uma só gota de chuva, em seu isolamento,
A solitária árvore na colina?
Cria a gota de chuva, isolada em sua grande descida,
O som mavioso de muitas águas?
Mata a gota de água, apenas com sua pureza,
A sede agonizante?
Estou cantando o Cântico da Vida.
Neste cântico,
Oh! Amigo,
Não existe nem eu nem tu,
Mas a Vida, que é, de tudo, a Bem Amada.

Só os ignorantes correm atrás da sombra
De si mesmo na Vida.
E a vida escapa-lhes
Porque vagueiam nos caminhos da sujeição
Daí a luta da separatividade numa grande unidade.
Porque na Vida não existe nem eu nem você.



Autor: J. Krishnamurti
A Estrela Ano II No. 5 e 6 Maio e Junho de 1929

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