domingo, 27 de janeiro de 2013

Juramento da Bruxa


Que eu seja como a que tece o pano
na floresta, profundamente escondida.
Que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção. 
Que eu seja uma exilada, se este é o sacrifício. 
Que eu conheça a procissão sazonada do meu espírito e do meu corpo, e possa celebrar os quartos em cruz, solstícios e equinócios. 
Que cada Lua Cheia me encontre a olhar para cima, nas árvores desenhadas no céu luminoso. 
Que eu possa acariciar flores selvagens, cobri-las com as mãos. 
Que eu possa libertá-las, sem apanhar nenhuma, para viver em abundância. 
Que meus amigos sejam da espécie que ama o silêncio. 
Que sejamos inocentes e despretensiosos. 
Que eu seja capaz de gratidão. 
Que eu saiba ter recebido a alegria, como o leite materno. 
Que eu saiba isso como o meu gato, no sangue e nos ossos. 
Que eu fale a verdade sobre a alegria e a dor, em canções que soem como o aroma do alecrim, como todo o dia e na antiguidade, erva forte da cozinha. 
Que eu não me incline à auto-integridade e a auto-piedade. 
Que eu possa me aproximar dos altos trabalhos da terra e dos círculos de pedra, como raposa ou mariposa, e não perturbar o lugar mais que isso. 
Que meu olhar seja direto e minha mão firme. 
Que minha porta se abra àqueles que habitam fora da riqueza, da fama e do privilégio. 
Que os que jamais andaram descalços não encontrem o caminho que chega a minha porta. 
Que se percam na jornada labiríntica. 
Que eles voltem. 
Que eu me sente ao lado do fogo no inverno e veja as chamas brilhando para o que vier, e nunca tenha necessidade de advertir ou aconselhar, sem que me peçam. 
Que eu possa ter um simples banco de madeira, com verdadeiro regozijo. 
Que o lugar onde habito seja como uma floresta. 
Que haja caminhos e veredas para as cavernas e poços e árvores e flores, animais e pássaros, todos conhecidos e por mim reverenciados com amor. 
Que minha existência mude o mundo não mais nem menos do que o soprar do vento, ou o orgulhoso crescer das árvores. 
Por isso, eu jogo fora a minha roupa. 
Que eu possa conservar a fé, sempre! 
Que jamais encontre desculpas para o oportunismo. 
Que eu saiba que não tenho opção, e assim mesmo escolha como a cantiga é feita, em alegria e com amor. 
Que eu faça a mesma escolha todos os dias e de novo. 
Quando falhar, que eu me conceda o perdão. 
Que eu dance nua, sem medo de enfrentar meu próprio reflexo. 

Autora: Rae Beth

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