sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Minha Elegia

No porto do adeus sidéreo
Deixo-te minha lira de Orfeu
Foi nas vagas do azul etéreo
que te disse o ultimo adeus

Içam os mastros dourados
intumesce as velas o sopro do ar
inefável adeus suspirado
Já espera você regressar

Nas vagas desventuras vivi
triste destino proscrito
Velejando lugares inóspitos
lúgubre sina longe de ti

Algoz plagas de tritão
Marulho tétrico a me arremessar
é preferível o caixão
que a procela deste mar.

Ébria noites de saudades
lânguidas dores pelo corpo
tragam-me logo um ataúde
para o précito que jaz morto

Cerralhos cairam por terra
foram-se sonhos e quimeras
as falenas sobrevoam na penumbra
pousam na lousa sobre a tumba

Tombe meus olhos o ópio de Morfeu
desde o porto do ultimo adeus
sou a ninfa que prefere morrer
sem meu poeta de que vale o viver?

a flor espera o crepúsculo
para sentir os raios do sol
sou larva que anseia no casulo
abrir asas no arrebol...

lívida viuvinha a devanear
nas tépidas noites de sua elegia
sentada na veiga a cantar:
onde estará o bardo de minha alegria?

oh! noites fúnebres
sem as liras do trovador...
oh! Látegos lúgubres
sem seus beijos de amor...

Oh! Deuses acalentem a fúnebre dor
pela plácida brisa até o batel
levem a poesia que coloco no papel
levem também meus suspiros de amor

nas asas do mais lívido condor...

Ao tombar meus olhos no vergel
vejo a brisa acariciar o lírio
peço a vênus que vá ao batel
levar a canção de nosso idílio:

''...Amantes são como madressilva e aveleira
crescem as almas entrelaçadas...
somos como a vinha e a roseira
que morrem se separadas...''

Noctívaga a vagar pela plácida tundra
sinto a vida escapar-me pelas mãos
pouso a cabeça sobre a lápide
lânguida desfaleço de leve ao chão

vejo num átimo de segundos a vida se obumbrar
sinto o lume da existência se apagar
logo estrarei no esquife a suspirar
oh! Poeta, nem morrendo deixarei de te amar...

a lua derrama raios no ataúde
precito sepultado no horrendo mausoléu
um espectro fulgura sobre a lápide:
Amor encontrarei-te ainda no céu...

No porto do sidéreo adeus
meus olhos glauco fitos nos seus
chora o bardo na lira de Orfeu
soluça a dizer-me:''vá com Deus''.

Ouço notas de menestrel
um augúrio já avisto adiante...
meu bardo que me encontra no céu
a receber-me com sua lira ovante...

o camafeu que guardastes
nas noites que navegou
olhando sempre recordastes
da donzela que tanto te amou

Assistiram meus sonhos alados
a esmeralda que carreguei
lembrando dos tempos dourados
oh! bardo se te amei...

No porto do sidéreo adeus
avisto ''agora'' uma lampa...
meus olhos encontram os seus
oh bardo de minha aliança.

Autora: Poliana Tomazi.

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