terça-feira, 8 de maio de 2012

Tocar



Tocar um corpo
e o ar
e a língua de neve.

Tocar a erva
mortal e verde
de cinco noites
e o mar.

Um corpo nu.
E as praias fustigadas
pelo sol e o olhar.

As palavras, vício
torpe, antigo.

As últimas? As primeiras?

Como os ouriços
abrem-se ao rumor do mundo:
o sol ainda verde dos limões,
os esquilos
doutras tardes, o latido
da chuva nas janelas,
os velhos em redor do lume
- nunca foram tão belas


Autor: Eugénio de Andrade ( 1923 )

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