sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sob o silêncio dos céus...



Porque choras de que existe
A terra e o que a terra tem?
Tudo nosso – mal ou bem –
É fictício e só persiste
Porque a alma aqui é ninguém.

Não chores! Tudo é o nada
Onde os astros luzes são.
Tudo é lei e confusão.
Toma este mundo por strada

E vai como os santos vão.

Levantado de onde lavra
O inferno em que somos réus
Sob o silêncio dos céus,
Encontrarás a Palavra,
O Nome interno de Deus.

E, além da dupla unidade
Do que em dois sexos mistura
A ventura e a desventura,
O sonho e a realidade,
Serás quem já não procura.

Porque, limpo do Universo,
Em Christo nosso Senhor,
Por sua verdade e amor,
Reunirás o disperso
E a Cruz abrirá em Flor. 


Fernando Pessoa

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